Mesa farta para o franchising

Do Comércio

Por Karina Lignelli

 

Mesmo com participação ainda pequena dentro do mercado de alimentação como um todo – apenas 5%, – o food service é o mais representativo do franchising. Dados da 8ª edição da pesquisa “Balanço setorial das redes de franquias de alimentação 2013”, levantamento oficial da Associação Brasileira de Franchising (ABF) em parceria com a ECD Food Service, divulgada ontem, mostram que o setor, que cresceu 16,6% no ano passado, têm expectativas mais moderadas de alta, na faixa dos 15%, para 2014.

Mas os números gerais são expressivos, já que o segmento é composto por 637 marcas, tem 19.675 lojas e registrou faturamento de R$ 23,9 bilhões no ano passado. Quando se fala em lojas próprias, o total é de 43%, ante 23% dos franqueados. Nesta edição, também aumentou o número de marcas que responderam à pesquisa, de 42 para 57.

Segundo o levantamento, o segmento que puxou a alta do food service este ano novamente foi docerias/sorveterias (40%), seguido por pizzas e massas (36%), devido ao aumento no número de lojas ante 2012, explica Donna. Quando se fala em faturamento, a maior alta também foi nas docerias/sorveterias, com 38% do total. Já o tíquete médio em 2013 ficou em R$ 17,58 – ainda muito abaixo de setores como self service e refeições a la carte, com o dobro do tíquete médio, em geral. “Setores não tão organizados têm preço maior – o que mostra que o desempenho das redes precisa melhorar. Espaço para crescer, há”, alerta Enzo Donna, diretor da ECD.

Quanto às expectativas de crescimento versus o crescimento real em 2013, a maioria das redes teve alta menor que o esperado, como as redes de comida asiática (esperavam crescer 17%, mas cresceram 12%), docerias, que de 40% caíram para 38%, e pizzas e massas, de 36% para 22%. O único setor que manteve as expectativas conservadoras em 2013, o de sanduíches, que representa 70% do total do faturamento do food service, cresceu 14% – bem acima dos 9% projetados. Para 2014, todos revisaram ou mantiveram suas metas de crescimento para baixo. “Todos estão cautelosos com o cenário macroeconômico”, diz Donna.

Custos e desafios – Mas, se em linhas gerais o setor é “triunfante, segundo Enzo Donna, a alta dos custos de CMV (que inclui matérias-primas), com 32% do total, mão de obra (20%) e alugueis (15%), somadas aos entraves logísticos, são os três “infernos” que pressionam as empresas do segmento – e que impedem de crescer mais que os 16,6% de 2013 este ano.

 

Outro desafio das franquias é conquistar o mercado externo, segundo Ricardo Camargo, diretor executivo da ABF. “Hoje, temos 125 redes no exterior, mas o número ainda é menor que na Argentina, que tem quase 200”, explica Camargo.

Além de todos os desafios, o setor de alimentação lida agora com a mudanças de hábito do consumidor, que exige melhor custo-benefício.

De acordo com Donna, além dos shoppings, lojas de rua e galerias, é preciso abrir uma franquia “dentro da casa do consumidor”. “Pesquisa da Toledo & Associados mostra que, entre 35% e 40% da despesa com alimentação fora de casa é retirada ou entregue na residência. Nessa batalha, as redes perdem para padarias, rotisserias de supermercado (que já representam 5% a 6% do faturamento dessas lojas) e deliveries de comida chinesa e pizzas”, explica.

Também é preciso atender às refeições que têm um desempenho frágil no franchising como café da manhã, lanche e almoço, já que as padarias, “abertas a princípio só para vender só pão”, segundo Donna, hoje vendem 11 milhões dessas refeições diariamente. “Elas representam mais de 70% da alimentação fora de casa. Por isso as franquias têm que inovar cada vez mais, descobrir as expectativas desse consumidor e criar suas próprias soluções. Mas sem copiar”, conclui.

O consumidor quer novidades, sem abrir mão do velho e bom atendimento.
Se antes o consumidor prezava mais a alimentação que parecesse com a de casa, agora também faz questão do equilíbrio e quer conhecer o novo –  desde que o atendimento seja pautado pela cordialidade, pró-atividade e profissionalismo. E caso estes requisitos não sejam cumpridos, o consumidor vai para as redes sociais “contar para todo mundo”, diz Maria Aparecida Toledo, diretora da consultoria Toledo & Associados.
Uma pesquisa realizada pela consultoria apontou justamente que as principais reclamações dos consumidores têm como alvos o atendente “mecânico” típico das redes de fast-food; funcionários que parecem estar “incomodados” com a sensação de lazer do consumidor – e por isso atendem mal; ou o próprio ambiente das praças de alimentação, pautado, segundo os entrevistados, por aspectos negativos como barulho, mesas sujas, falta de lugares ou a comida fria.
“Comer na praça de alimentação não é escolha (quem vai ao shopping, em geral, vai fazer outras coisas), mas ir ao restaurante é”, afirma Maria Aparecida. “Não basta só investir em treinamento básico, mas em educar, preparar quem está na ponta para atender os diferentes nichos, mas também o que é discutido estrategicamente”, explica Maria Aparecida.
O levantamento da Toledo & Associados, chamado “Food service e seu cliente”, foi apresentada no seminário setorial da ABF.
Onde investir – Como a alimentação se baseia em individualidade e sociabilidade – e segundo a pesquisa, para 28%, essa busca é por prazer, e 13% por práticas saudáveis – Maria Aparecida cita outras oportunidades a serem exploradas. Entre as mais significativas, o crescimento do café da manhã fora de casa – que era procurado por 3% dos consumidores em 2006 e saltou para 8% em 2012 –, assim como o lanche da tarde, que subiu de 6% para 9% no período.
Mas não basta só comer fora: a portabilidade dos alimentos – ou seja, snacks que se transportam no bolso ou na bolsa – é considerada importante pra 52% dos entrevistados.
Explorar o bem-estar é outra dica importante: apesar de só 13% dos consumidores ainda praticarem a alimentação saudável, é um item valorizado. “Folhetos com curiosidades sobre o tema atraem o consumidor, já que ele associa à alimentação adequada, atividade física e nível baixo de estresse. É mais que vender comida: é proporcionar experiência de compra”
A associação de redes de food service com a indústria representam credibilidade para 48% dos entrevistados – o tal B2B2C, segundo explica. O design estratégico das lojas é outro ponto a se investir, já que, mesmo não sendo fieis às marcas, “os consumidores querem se sentir únicos na loja”, afirma Maria Aparecida.
Por último, as redes devem focar na geração Y, já que, em 2020, 46% dos consumidores e atendentes farão parte do grupo pautado pela conectividade – e que influencia o consumo. “As empresas podem investir muito em grandes campanhas, mas para quem não for “network thinker”, ou seja, não pensar em rede, tudo será perdido”, comenta.
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