O mundo dos negócios é parte importante da vida de famosos artistas brasileiros. Fora do showbusiness, muitos investem em bares e restaurantes descolados e sofisticados
Por: Andressa D’Amato
Ele é cantor, ator, compositor, multi-instrumentista e, desde 2013, empresário. O carioca Jorge Mário da Silva, o Seu Jorge, concilia todas essas funções artísticas com a cervejaria e restaurante Karavelle. Sua entrada na fabricante de bebidas, fundada em 2011, foi inusitada. Numa reunião com amigos, entre eles Otavio Veiga, um dos sócios da Karavelle, Seu Jorge bebeu as cervejas da marca a noite inteira e, no dia seguinte, acordou sem ressaca. Ele não pensou duas vezes e se ofereceu para fazer parte da sociedade. Desde então, o cantor é garoto-propaganda da Karavelle e, constantemente, faz pocket shows em um dos dois restaurantes do grupo em São Paulo, no bairro do Itaim. A outra casa fica nos Jardins.
Além do Seu Jorge, outras personalidades têm brilhado também nos negócios gastronômicos. A apresentadora Fernanda Lima é sócia do bem-sucedido restaurante Maní, um dos mais premiados da atualidade, também em São Paulo. Já o ator Bruno Gagliasso investiu em dois estabelecimentos que seguem propostas distintas: o “natureba” Le Manjue e o Burger Joint, uma franquia nova-iorquina de hambúrgueres e batatas fritas. Antes disso, o ator já ensaiava sua atuação na gastronomia no restaurante de sua família, o Família Gagliasso, no Rio de Janeiro. O sucesso na vida artística parece estar se repetindo nos negócios. É o que indicam as longas filas de espera para conhecer o cardápio do Maní, da premiada chef Helena Rizzo, uma das mais famosas mulheres da alta gastronomia internacional. Em março, quando o Burger Joint foi inaugurado, para experimentar o clássico hambúrguer da casa – que, apesar de trazer o peso da “grife” americana, não apresenta grandes diferenciais –, os clientes também enfrentaram filas demoradas.
Outro ator que apostou na gastronomia é Malvino Salvador, que mantém, com outros sócios, o Barê, também nos Jardins paulistanos. “Queríamos algo que tivesse a nossa cara: um ambiente agradável, despretensioso, com boa comida e bons drinks”, diz Salvador. Ele também é sócio de uma marca de cerveja artesanal. “Sempre quis ter independência financeira e não contar apenas com um emprego”, afirma. “É como se eu precisasse disso para me preencher. Provavelmente, continuarei ampliando meus negócios.”
Mas a fama nos palcos ou nas telas não é garantia de retorno sobre o investimento. “Evidentemente que, pelo fato de os donos serem famosos, há uma curiosidade maior do público em conhecer esses restaurantes. Mas isso não garante o sucesso no longo prazo”, diz Enzo Donna, diretor da consultoria EDC Food Service. “O negócio tem de se firmar no mercado por ser bom. Não adianta marketing se não oferecerem comida de qualidade e bom atendimento”. De acordo com o consultor, o lucro, invariavelmente, chega somente após o terceiro ano de funcionamento. “Mesmo fazendo sucesso, dificilmente vem antes”.
Para Silvio Laban, coordenador do MBA do Insper, diversificar é sempre bom, até para os famosos. “Artistas nem sempre estão em destaque”, afirma Laban. “Investir é aconselhável, mas o ideal é escolher produtos com os quais estejam identificados e que sejam atemporais. Dessa forma, a margem de risco diminui.” O empreendedorismo acaba sendo uma forma dos artistas se protegerem do risco de perderem a fama, especialmente quando ela é tão efêmera quanto um “viral” nas redes sociais. A blogueira Gabriela Pugliesi, que ficou famosa por suas dicas fitness no Instagram, sempre ilustradas por fotos que ressaltam suas torneadas curvas esculpidas nas academias, está se tornando uma verdadeira empreendedora serial. “Se um dia acabarem as redes sociais, tenho alternativas de renda”, diz a blogueira, que já afirmou em entrevistas que chega a cobrar até R$ 10 mil por um post patrocinado.
Pugliese é dona da Tapiocaria Market, especializada em tapioca, da academia Velocity, focada em aulas de spinning, e da marca de moda fitness Alekta. Sua entrada no mundo dos negócios também se deu por meio de uma conversa entre amigos. Depois de ajudar na criação de um cardápio fit para o restaurante Serafina, a blogueira sugeriu a um dos sócios que abrisse uma tapiocaria. Afinal, a receita já era uma das mais consumidas pelos adeptos da alimentação saudável. Foi um sucesso. A empresa, inclusive, já dá lucro. Os sócios investiram R$ 1,2 milhão e, em apenas dois anos, o faturamento quase triplicou, atingindo R$ 3,1 milhões. “Estamos estudando inaugurar mais uma unidade, em São Paulo”, afirma um dos sócios, Marcelo Alcântara. É uma boa maneira de aproveitar a fama.
Legenda foto: Talento nos negócios: Seu Jorge apostou em uma cervejaria